quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Advertencia: Esse post é longo e contém cenas de grande incoerência.

                Hoje me senti carente de blog, há coisas que precisamos compartilhar e por mais contraditório que pareça há sim lugares mais reservados na rede mundial de computadores, lugares onde as pessoas vão para ler um conteúdo específico, intimista por vezes, não aquela intimidade do twitter, do facebook, escrevemos coisas muito superficiais por lá, raras reflexões, apenas situações do agora, dificilmente encontro uma postagem que vem de alguém que olhou pra si, pensou, ficou aterrorizado e vomitou a descrição nas páginas de relacionamento citadas. Não que isso seja de alguma relevância, nem meu blog o é, mas, vai que aparece alguém que pensa como eu e pode me dar umas dicas, vai que eu esteja errada e mude de idéia depois de alguma coisa ou depois de nada. 
         Estou num bom dilema essa madrugada. Tudo começou com um texto de museologia 3, que de forma inexplicável me projeta para fora dele mesmo o tempo todo, o problema é que ele não me faz ficar com preguiça ou ver coisas mais interessantes, ele me aterroriza, vou tentar explicar porque. Na verdade o assustador é que vem tudo misturado e não sei se organizo para contar, vou contar na ordem de acontecimento, desembaralha quem quiser.
       Lendo aquele texto uma coisa me veio claramente (de novo) por que os museus se acham portadores de uma missão educativa declarada, pra ser mais clara: por que há museus que me fazem sentir novamente na escola? Depois de um dia estressante dispensar um mediador ainda é considerada uma baita falta de educação, por que esse estigma sobre o visitante solitário em uma galeria? Essa não é minha visão geral, mesmo porque falo da minha experiência pessoal, meu problema é essa padronização de público, é o tentar letrar todo mundo o tempo todo. Não posso tentar despertar no meu visitante a vontade de tentar descobrir sozinho? Claro que isso já foi proposto em várias exposições, mas, o que estou dizendo é que o museu parece uma caixinha, quando deveria (na minha cabecinha de adolescente) ser uma continuação do que está lá fora, sem essa interrupção, situação (no sentido de situar a pessoa),  os museus que visito parecem uma sala de aula, é estranho. 
     Os museus que visito sozinha, mesmo sem entender o tema me parecem mais o museu que eu queria, não pra todo mundo, pra mim...eu sou outra demanda de público, mais um pra lista. Eu não queria que fosse um espaço sem lógica, eu gosto de construir a minha lógica e daí veio mais uma questão de madrugada: eu tenho essa visão por causa da liberdade criativa que meus professores me deram até o segundo ano do ensino médio.  Parece uma besteira, eu já pensei assim, mas, com as aulas da Ana Abreu tenho prestado mais atenção às minhas lembranças escolares. Eu tive o privilégio de em um sistema educacional que te obriga a saber uma pitada de quase tudo (isso pra mim é saber nada e nunca ter tempo pra ser bom na sua máxima capacidade, uma tolice sem fim) escolher o que eu queria fazer por diversas vezes e devo isso ao apoio irrestrito e até incorreto de meus professores da quinta série ao segundo ano. Foi quase uma bagunça, que bom.
        Lembro de ter sido muito incentivada a levar para a escola o que aprendia fora dela: a dança, antes de fazer ballet eu tive vínculos com ele, como uma espectadora por anos, sempre achei aquilo surreal, lindo, emocionante, e o que eu levava pra escola o tempo todo eram as minhas leituras sobre isso, impressões essas muito bem acolhidas pelos meus colegas e professores. Acho que fui uma privilegiada nisso, até mimada, como as minhas impressões sobre tudo (menos a matemática) foram bem acolhidas nessa faixa etária!  Muita gente fez vista grossa para as minhas inabilidades pra encobrir as minhas habilidades e acho que isso falta na escola que vejo para várias outras pessoas, ninguém é bom em tudo e elas não ensinam isso. Assumir que não é bom em tudo é o primeiro passo pra assumir que é bom em alguma coisa e virar um perfeccionista,  essa eu aprendi com meus pais "se não é boa em matemática a gente te ajuda, desde que seja boa em alguma coisa."  
       Em que eu sou boa ainda não sei, nem sei se um dia vou descobrir, o que quero dizer com isso tudo é que falta foco, ou focos, vejo tanto os museus quanto a escola (que são coisas diferentes por mais que tentem fazer um extensão da outra como muita gente já disse) com uma visão muito ampla de públicos, fracamente, devo aos meus professores (alguns deles) minha felicidade e esse meu lado questionador que pode até ser errado em muitos pontos, afinal ainda sou uma pirralha e nem quero estar certa um  dia, esse não é meu foco, falo de foco, mas, ainda nem achei o meu, só que eu queria que todo mundo pudesse ter esse privilégio de poder se ouvir mesmo que seja pra ficar muito confuso, de não saber nem que curso quer e ficar desesperado, minha sorte é que abriu museologia que mescla muita coisa que amo e mais sorte ainda por eu ter me apaixonado ela área, porque antes eu queria dança e não me via fora dela, agora eu quero museologia e novamente tenho a sorte de ter um espaço pra ser ouvida só que veio a fase da correção, do refinamento, de aprender a andar na norma, aquela liberdade e vista grossa precisam ser cortados e a criatividade adquirida sistematizada e garimpada.
            Eu sei lá se minha educação foi a correta, mas, ela me leva a querer um museu diferente. Eu não sinto muito se estiver errada, avisei no título que era incoerente. O que me (des)norteia essa madrugada é só isso de achar que educação e museu não devem estar sempre ligados seja no sentido raso ou fundo do termo, talvez por essa ligação obsessiva muita gente continue não entendendo nem voltando, veja bem...muita gente não é todo mundo . Ou talvez meus pais devessem ter me obrigado a fazer o inglês que eu odiava ao invés do francês,  meus professores devessem me obrigar a calcular ao invés de dançar...e apesar dessa idéia robótica que o mundo tem sobre educação e acharem a minha um absurdo, eu (ainda) não sou um fracasso para as expectativas dos meus queridos "irresponsáveis" pais e professores. Não uso drogas, não prejudico ninguém de maneira direta (sou consumidora, devo prejudicam milhões de maneira indireta, infelizmente), cheguei à Universidade na idade certa, não possuo desvios graves de caráter (o socialmente aceitável) Onde está o erro na educação livre? ainda estou procurando, eu só cresci sendo poupada de um monte de traumas e ainda tenho um monte, imagina quem foi obrigado a tudo? Um problema que vejo é que o sistema faz as pessoas acharem que estão condicionadas ao fracasso se não tirarem a média em tudo e não tiverem os recursos, como é triste ver na TV o castanheiro dizendo que não tem sonhos, não tem expectativas de melhoras. Que sistema é esse que faz uma pessoa se sentir digna de sofrimento, inferior? Não posso acreditar nem compactuar com uma coisa dessas! Quem é o maior responsável por isso?
      Veja bem: analises psicológicas e patologias na minha geração existem, assim como alucinações no século retrasado são diferentes das de hoje e nem por isso são classificadas como frescura, cada época com seus contextos e inquietações que sempre serão censuradas por outras gerações, já liguei muito pra isso e francamente? Já encontrei 2 "adultos" que me apoiem nessa outra etapa, eles anulam o efeito de todos os pessimistas sobre mim. Se no seu tempo isso era frescura, saiba: o agora passa voando, como diria o Benjamin não com essas palavras.
      Quando digo "adulto" quero dizer pessoas mais velhas que eu, segundo a OMS eu já sou um adulto e sei disso, mas na minha época a juventude (no sentido mental e etário de forma conjunta) existe e leva tempo. E sei lá se eu disse o que alguém já disse, isso é só mais um blog na internet. 
      Alguém entende? nem eu. E no título é cena mesmo, estou falando de imaginação, a minha. Eu fui mal em matemática, e isso é fato, meus boletins o sabem, mas nem por isso eu sou uma fracassada e se não fui letrada nisso na escola, por que os museus precisam letrar todo mundo com um mínimo de tudo se eles podem suscitar questões mais profundas? E se a profundidade estiver no inútil? São 3:21 da manhã, melhor eu parar de postar bobagem.

domingo, 7 de agosto de 2011

Privacidade (?)

Sou estudante de museologia, pertenço à sociedade do espetáculo, com ou sem a aprovação desta que vos escreve, faço parte da ampliação do acesso das massas à informação, e à própria reinvenção frenética de valores, reinterpretação que sái quentinha de nossas mentes a cada NOVA HORA, somos pós modernos e queremos privacidade, mas, o que seria a privacidade em uma sociedade que está em constante  (e intenso) movimento intelectual?  
 Marshall Berman nos lembrou em suas suaves palavras que:
           “A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo, no qual como disse Marx, "tudo que é sólido se desmancha no ar".
             Somos seres complexos e contraditórios, o “turbilhão de Berman” acaba por descrever um homem sozinho e angustiado, um estadounidense descreve acima o HOMEM AMALGAMA: uma mistura  de vários elementos, fruto de um intercâmbio intenso, paradoxalmente sozinho.
Se no modernismo de Berman Marx diz que tudo se desmancha no ar, no nosso pós modernismo,  Lavoisier se levanta do túmulo e repete-nos sua célebre frase: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” o AMALGAMA do modernismo se torna o ANAGRAMA: um anagrama é resultado de letras embaralhadas e pode se tornar outros tantos, não se trata de confusão,  mas sim de diferentes possibilidades que variam pela ordem.
            Vício pelo próprio registro: registro de si mesmo, medo de ser esquecido, a célebre primeira dama francesa (italiana, mas da França) tem alguma razão “Seria preciso que todos nós pedíssemos junto às autoridades uma lei contra toda a nossa solidão, e que ninguém seja esquecido”  Ora, a pós modernidade não sanou a necessidade de calor humano que Berman expressa, então criamos teias enormes de informação sobre nós mesmos e queremos compartilhá-las, não julgamos muita coisa absurda como inútil, privacidade pós moderna pode ser expressa então pelo desejo de lançar minhas leituras sobre uma persona que  criei, quero que todos a conheçam pelo meu ponto de vista, os pontos que fabrico enquanto virtual.
           Já que segundo madame Sarkozi todos têm “a alma emaranhada” e “uma infância que ronrona no fundo de um bolso esquecido” tentamos a todo custo desfazer esses nós cegos e registramos tudo isso (Twitter, facebook formspring, blogs e afins), trazemos à tona nossa interpretação sobre nossas personas, mas, não queremos que ninguém o faça,  que notem o cabelo natural, que ousem roubar minha fotografia por que a comprei ou acessar os meus fantasmas por que os mascarei, a minha reinvenção de mim não pode ser esquecida, essa pode ser uma possibilidade do tal desejo de privacidade da sociedade do espetáculo.
            Os meus documentos de papel consistem em uma realidade externa, e a realidade que me desperta interesse enquanto pós moderna é a que crio a cada novo segundo, esse é meu anagrama em (re)ordenação permanente, o lado jurídico me apraz enquanto processo, a segurança privada é assegurada quando há moderação, mas a essência pós moderna em si não fere o direito à privacidade, trata-se de uma realidade inventada, ou compartilhamento da vida cotidiana,  documentário eterno enquanto não chegue o ultimo suspiro, a não ser que o indivíduo faça uso inadequado dos instrumentos de comunicação que dispõe. Contra o desejo de auto-análise e registro não há lei... ainda.
           Se “ser ou não ser” era a questão em Hamlet, “Quem podemos ser” é uma boa nova questão.
PS: “eu já não sou o que era, devo ser o que me tornei” Coco Chanel







(esse post está também no blog "nossas perspectivas" onde uso o nome Sophie Backlund)

terça-feira, 21 de junho de 2011

E se as memórias fossem arquivo morto?

              Quando nos irritamos, temos o costume de dizer que esquecemos ou queremos esquecer...e rejeitamos nossas memórias, dizemos que quem vive de passado é museu. Ora, o que seria de nós sem passado? E não é por amar museus e fazer museologia, digo que nossa vida é sim memória pura, muita gente já falou sobre isso. Quando abro os olhos pela manhã eu sei quem sou, onde estou à que lugar pertenço, sei porque estou feliz ou mesmo diferencio coisas que gostaria de esquecer, isto é memória e ela definitivamente não é um arquivo morto, ela testifica todos os dias quem somos.
             E se quem vive de passado é museu e não somos museus, podemos jogar nossos amigos fora, nossas recordações fora, nossa memória fora...ah como lembrar é precioso!
             Desde os bordados do caminho de mesa da minha avó quando pequena, todos os meus fracassos, dores, conquistas. Quem seria eu sem isso tudo? Estaria em um sanatório? Certamente não, minha família e amigos talvez cuidassem de mim, mas, até quando? Eu seria um vegetal. Ah como são preciosas as minhas memórias, todas, boas ou ruins.
             Nós podemos trocar de país, de sexo, de vida presente...mas não podemos anular nosso passado, isso seria aceitar algum tipo de doença grave: não saber o mínimo sobre quem somos. Certa vez uma amiga sofreu um grande trauma e tínhamos que fazer um exercício com ela, " eu sou .... esposa do.... tenho dois filhos, trabalho em.... gosto de...." sempre perguntávamos isso, hoje ela já está ótima, e sinceramente fico feliz, porque ela estava irreconhecível. Não há coisa mais triste que uma pessoa que não sabe sequer o próprio nome.
             E se não lembrássemos de nada? Sobreviveríamos?
              Certamente não. A memória é um mecanismo primordial de sobrevivência, e se não recordássemos? Nada teria continuidade.
             Por mais que algumas recordações causem sensações ruins, são necessárias, o que digo parece óbvio, mas é que temos jargões populares com a profundidade de um papel de seda, por exemplo: "Quem vive de passado é museu" já parou pra pensar nisso?