domingo, 7 de agosto de 2011

Privacidade (?)

Sou estudante de museologia, pertenço à sociedade do espetáculo, com ou sem a aprovação desta que vos escreve, faço parte da ampliação do acesso das massas à informação, e à própria reinvenção frenética de valores, reinterpretação que sái quentinha de nossas mentes a cada NOVA HORA, somos pós modernos e queremos privacidade, mas, o que seria a privacidade em uma sociedade que está em constante  (e intenso) movimento intelectual?  
 Marshall Berman nos lembrou em suas suaves palavras que:
           “A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo, no qual como disse Marx, "tudo que é sólido se desmancha no ar".
             Somos seres complexos e contraditórios, o “turbilhão de Berman” acaba por descrever um homem sozinho e angustiado, um estadounidense descreve acima o HOMEM AMALGAMA: uma mistura  de vários elementos, fruto de um intercâmbio intenso, paradoxalmente sozinho.
Se no modernismo de Berman Marx diz que tudo se desmancha no ar, no nosso pós modernismo,  Lavoisier se levanta do túmulo e repete-nos sua célebre frase: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” o AMALGAMA do modernismo se torna o ANAGRAMA: um anagrama é resultado de letras embaralhadas e pode se tornar outros tantos, não se trata de confusão,  mas sim de diferentes possibilidades que variam pela ordem.
            Vício pelo próprio registro: registro de si mesmo, medo de ser esquecido, a célebre primeira dama francesa (italiana, mas da França) tem alguma razão “Seria preciso que todos nós pedíssemos junto às autoridades uma lei contra toda a nossa solidão, e que ninguém seja esquecido”  Ora, a pós modernidade não sanou a necessidade de calor humano que Berman expressa, então criamos teias enormes de informação sobre nós mesmos e queremos compartilhá-las, não julgamos muita coisa absurda como inútil, privacidade pós moderna pode ser expressa então pelo desejo de lançar minhas leituras sobre uma persona que  criei, quero que todos a conheçam pelo meu ponto de vista, os pontos que fabrico enquanto virtual.
           Já que segundo madame Sarkozi todos têm “a alma emaranhada” e “uma infância que ronrona no fundo de um bolso esquecido” tentamos a todo custo desfazer esses nós cegos e registramos tudo isso (Twitter, facebook formspring, blogs e afins), trazemos à tona nossa interpretação sobre nossas personas, mas, não queremos que ninguém o faça,  que notem o cabelo natural, que ousem roubar minha fotografia por que a comprei ou acessar os meus fantasmas por que os mascarei, a minha reinvenção de mim não pode ser esquecida, essa pode ser uma possibilidade do tal desejo de privacidade da sociedade do espetáculo.
            Os meus documentos de papel consistem em uma realidade externa, e a realidade que me desperta interesse enquanto pós moderna é a que crio a cada novo segundo, esse é meu anagrama em (re)ordenação permanente, o lado jurídico me apraz enquanto processo, a segurança privada é assegurada quando há moderação, mas a essência pós moderna em si não fere o direito à privacidade, trata-se de uma realidade inventada, ou compartilhamento da vida cotidiana,  documentário eterno enquanto não chegue o ultimo suspiro, a não ser que o indivíduo faça uso inadequado dos instrumentos de comunicação que dispõe. Contra o desejo de auto-análise e registro não há lei... ainda.
           Se “ser ou não ser” era a questão em Hamlet, “Quem podemos ser” é uma boa nova questão.
PS: “eu já não sou o que era, devo ser o que me tornei” Coco Chanel







(esse post está também no blog "nossas perspectivas" onde uso o nome Sophie Backlund)

2 comentários:

  1. Adoro esse tema.
    Muito legal a maneira abordada aqui. =)

    ResponderExcluir
  2. Mais menina !!!
    que complexidade você escrevendo hein?
    rsrsrsrsrsrs
    muito legal
    bjuus Rafaella(filha da vivi)

    ResponderExcluir

Troca Troca
PS: a verificação de palavras é para evitar alguns probleminhas.